domingo, 4 de dezembro de 2011

Sobre preconceito e meu TCC.

Não sou nenhum paladino da justiça contra o preconceito e ecoisas do gênero, também acho que o preconceito hoje vem sendo usado como disfarce pra coitadismo, mas depois que comecei a fazer este TCC minha mente abriu pra algumas coisas. O tema do meu TCC é Preconceito Linguistico, dialétos e sotaques, mas resolvi ampliar pra costumes também, pois toda essas coisas tem relação. 

Uma das coisas que todo esse trabalho me fez perceber é o preconceito velado que existe nisso tudo e a internet ajuou muito, por ser uma terra teóricamente sem lei as pessoas falam o que querem e é aí que você percebe todo esse preconceito. Vejo muito as pessoas falando que preconceito linguistico é só mais uma frescura que inventaram pra aliaviar a situação de gente burra e "queria ver esse povo prestando concurso publico e escrevendo tudo errado". A coisa já começa errada com essa confusão de que linguistica é gramática, linguistica estuda tudo que envolve a lingua/idioma, suas variações e toda essa discussão existe pelo fato de que ninguem fala da maneira que se escreve, um dos motivos, claro. Antes que alguem apareça falando que sou mais um seguidor do Marcos Bagno ( "Preconceito Linguistico" foi o primeiro livro que li sobre o assunto e o  ator tem fama de Marxista ), já adianto que não concordo cegamente com tudo o que é dito no livro, pessoalmente acho ele bastante radical em algumas questão e  também não gosto de pessoas  que cometem erros gramáticais bizarros. Gosto de coisa bem escrita, sempre gostei, sempre me esforcei pra escrever bem ( mesmo sem sucesso huahauha ) e acho importante escrever bem pelo simples motivo que, diferente da fala, um texto mal escrito pode gerar interpretações bem erradas.

Enfim, cada vez mais percebo que pessoas que adoram falar que isso é frescura são pessoas que não sairam da caixa, vivem em seus mundos e acham que seu modo de vida, seu modo de falar é o correto e quando se depara com alguem totalmente diferente a primeira reação é chamar de burro e mandar estudar e o paulistano é campeão nisso. É bem bonito esse orgulho que os paulistanos tem da cidade, mas é um fato inegável que o paulistano é extremamente bairrista, separatista - inclusive dentro da cidade, é comum rixa entre regiões, mas é bem disfarçado - e adora se achar o europeu civilizado, mas não pergunte pra um paulista se ele é assim, ele vai negar e jurar por Deus ue não é. Eu só fui notar esse tipo de coisa quando ou vi de pessoas de fora, quando morei 3 anos no interior uando era criança. Nesse tempo que morei fora, as pessoas achavam feio o fato de eu usar muita gíria ( minha cunhada até hoje diz que o modo de falar do paulistano lembra  um bandido hahaha ), mas as próprias pessoas da cidade se policiavam de não falar 'carça' por que achavam errado e o modo de falar de São Paulo que era o correto... vai entender. Aliás isso é muito comum, pessoas acharem que determinado jeito de falar que é o correto. Quando voltei pra SP, ouvia muitas piadas  idiotas sobre o interior e o pessoal fazendo chacota ( na época não zoavam meu sotaque - morei em Guaianazes extrema Zona Leste de SP - porque falavam igual, zoavam o caipirês do pessoal do interior ). Nunca liguei pra isso, sempre zoei junto, mas é apenas pra ilustrar a situação.

Ninguém está fora disso, tanto eu quanto todos os envolvidos no meu TCC tem seus preconceitos, vou até listar:

- Tanto eu quanto o Régis, como de praxe não suportamos o sotaque carioca. O Régis um pouco mais, eu menos, porque tive vizinhos cariocas. 
- Eu passei a vida toda ouvindo que eu tinha sotaque de caipira. Isso cai na questão das pessoas acharem que todo mundo fala igual em SP, aliás isso vale pra qualquer metrópole.
-  A Ivanise uma vez me disse que acha o sotaque carioca meio enjoado. Ela com certeza não lembra disso. hahaha
- Todos aqui do sudeste, o Miguel, a Ana, o Régis e eu achamos o jeito de falar dos nordestinos engraçado, mesmo no caso meu e do Régis que somos acostumados por conta da cidade onde moramos :p. A primeira vez que ouvi o Roberto ( da Paraíba ) falando eu ri por uns 5 minutos sem parar. É uma questão interessante, porque isso tem envolvimento da mídia que desde que a gente nasce mostra como padrão o modo de falar carioca e em menor escala o paulista, ou o que eles acham ser o paulista. Quando mostram o modo de falar do nordestino é sempre de maneira caricata, por mais que alguns sejam debochados mesmo, como diz um amigo do Ceará que lá as pessoas são fanfarronas mesmo hahaha. 
- Matheus não muito chegado no jeito dos baianos, acha que eles querem ser paulistas. Não me pergunte a lógica disso. 
- Quando fui ao RioComicon, fiquei indignado com as pessoas chamando camiseta, camisa, camisa regata, camisa de manga longa de BLUSA. Parece bobo, mas isso deu uma pane no meu cérebro porque eu nunca sabia de qual roupa eles estavam falando. 
- A Ana não aceita até hoje eu chamar carteira de motorista de 'carta', não aceita o modo como os baianos pronunciam as letras ( na Bahia eles falam 'mê' ao invés de 'ême', por exemplo ). Com certeza isso não é burrice, Raul Seixas com certeza absoluta era alguem muito inteligente.  Pra quem não sabe ele tem uma música chamada "Mêdc" ( MDC ).
- O Régis achou inadmissível  quando eu falei que o Roberto as vezes diz "Sesse" no lugar de "fosse".              

Enfim, tudo isso é idiotice, mas não deixa de ser preconceitos. O grande problema é que esse assunto nunca foi/é abordado e quando abordam já vem alguem dizendo "êee só no Brasil", curioso que esse assunto existe no mundo inteiro, os 'assassinatos gramaticais' durante a fala existem no mundo inteiro independente de classes sociais. Então pra mim esse " Só no Brasil" me cheira mais coitadismo do que o discurso do preconceito. Toda essa questão do preconceito linguisto é bem complexa, não é apenas desculpa pra falar errado, envolve estudo de formação cultural, imigração, influência da mídia, existem 'N'  livros sobre o assunto no mundo todo e ora você concorda com o que é dito, ora não. Infelizmente esse é um assunto que as pessoas 'cultas' adoram resumir em 'coisa de revolucionário marxista', fazendo paralelo é o mesmo que falar que desenhista é vagabundo. 

Putz ficou longo demais o texo hahaha. Tem muito mais coisas pra falar, mas vai ficar por aqui mesmo.  

Acho que foi uma postagem meio irritada com umas coisas que ando vendo ultimamente.

É isso.